sábado, março 18, 2006

SWAN GANZ


Depois de vários anos de vida profissional dedicada ao mundo da cardiologia sou tristemente obrigado a reconhecer que a minha formação foi em excesso.
Bastava-me apenas ter investido na prática do Swan Ganz…
Nos novos tempos que se adivinham já não mais serão de esperar as astúcias do enfermeiro mais perspicaz em definir este ou aquele traçado, ou perceber a eminência de um edema agudo do pulmão, ou até mesmo ser rápido a desfibrilhar ou até mesmo a administrar a atropina no BAVC mais teimoso…
Meus amigos nestes tempos de pleno século XXI, a técnica do futuro têm mais de trinta anos, pois foi em 1970 que o Dr Jeremy Swan teve a ideia que apaixonou um dos nossos mais recentes assistentes hospitalares.
Será que ele sabe que:
-Em 1987, Robin argumentou que os riscos da cateterização da artéria pulmonar eram maiores que os benefícios. Após realizar estudo retrospectivo de seu uso no enfarte agudo do miocárdio, no qual constatou que os pacientes com cateter de Swan-Ganz tiveram pior evolução, e por isso sugeriu a "moratória" desse cateter.
-Em 1990, Zion e colaboradores, analisando o uso do cateter pulmonar em 5.841 pacientes com enfarte agudo do miocárdio em 14 unidades coronárias de Israel, concluíram que os 371 pacientes (6,4%) que receberam o cateter de Swan-Ganz tiveram índice de mortalidade maior do que os que não o receberam (59,4% x 33,5%).
-Naylor e colaboradores também questionaram o uso do cateter de Swan-Ganz, referindo ser um procedimento associado a considerável iatrogenia e a custos elevados.
-Recentemente toda esta polémica acentuou-se, com a publicação de um artigo de autoria de Connors e colaboradores. Essa investigação multicêntrica (estudo prospectivo de "coorte" — observacional, não-randomizado) incluiu 5.735 pacientes críticos com nove categorias de doenças, que foram internados em cinco unidades de tratamento intensivo dos Estados Unidos. Foram comparadas a sobrevida, a permanência no hospital e na unidade de tratamento intensivo, o custo e a intensidade dos cuidados administrados para pacientes que receberam o cateter de Swan-Ganz nas primeiras 24 horas com aqueles que não o receberam. Os cateteres de Swan-Ganz foram utilizados em 2.184 pacientes (38%), que tiveram pior evolução. Foi utilizado um escore ("propensity score", descrito por Rosembaum, em 1983) para ajustar a severidade da doença, representando a relação entre múltiplas variáveis e o uso do cateter de Swan-Ganz. Os pacientes que receberam o cateter de Swan-Ganz foram comparados de acordo com diagnóstico comparável e o "propensity score" com os que não receberam o cateter pulmonar. Os resultados da análise comparativa demonstraram menor sobrevida e maior utilização de recursos (custos) para os pacientes que receberam o cateter de Swan-Ganz.
Meus amigos… se esta técnica a partir de agora vai ser o topo de gama das técnicas, quem não vai querer um familiar internado nesta unidade sou eu!

2 comentários:

Toy Marafado disse...

Belo estudo de investigação. Porque não fazer mais umas Jornadas e apresentar este trabalho? Seriam só mais umas jornadas...........

zorlac disse...

Esses estudos ainda não chegaram aqui...sabes como é o nosso País, as novidades só chegam cá depois de ultrapassadas nos outros lados ;)