quinta-feira, maio 03, 2007

Manual do Bom Profissional

Depois de uns bons meses de interregno e vindo de alguns artigos a puxar para a brincadeira é hora de falar de coisas sérias...

Ao falar com colegas percebo que alguns e algumas se encontram a modos que revoltadas com a volta que as coisas andam a dar no serviço que a gente sabe...

Nesta altura as armas viram-se para os médicos e para a administração que julgam que podem fazer o que querem e apetecem com os enfermeiros, uns porque se julgam superiores, outros porque o são realmente (e bem ditatoriais), mas atenção só em termos hierárquicos, não em termos de humanidade, porque aí não sei bem em que cadeia da evolução os colocar.

Atenção amigos, eles não tem respeito por nós porque não sabemos nos dar ao respeito, esta é a minha opinião sobre todo este caso...

Fazemos demasiados "favores" e somos demasiado "amiguinhos" deles e eles, como amigos da onça, aproveitam-se de isso para nos irem apunhalando de mansinho nas costas...

É assim em tudo na vida... bem diz o ditado, dá-se um dedo, querem logo o braço todo...

Está na altura de pôr um travão nisto... se o quiserem fazer basta serem... PROFISSIONAIS, e cumprir com as regras que ditam a lei e o vosso próprio REPE em relação aos nossos direitos e funções...

Para apenas referir alguns exemplos e começando com o mais básico:

1) Exijam respeito no título! Sejam profissionais no trato com os médicos e exijam profissionalismo...

Há muitos médicos que gostam de tratar os enfermeiros por Chico ou Manel... enquanto que nós na nossa grande generalidade tratamos-os por dr X... vejam a mensagem que estamos a passar aos doentes que o ouvem... «aquele é senhor doutor, o outro é o Chico... logo Dr. > Chico».

Se isso vos acontecer é tão simples como isto... peçam educadamente ao doutor... agradecia que a a partir de agora me trate por Enfermeiro Francisco... e se ele mandar uma boca digam-lhe só: a si trato-o por doutor não trato?

A melhor maneira de começar a ganhar respeito é criando uma distância... profissional!

2) Não façam o trabalho do médico!

Não somos nós que temos de ver análises, são eles... Não somos nós que temos que prescrever medicação, são eles... e sobretudo não somos nós que temos de os lembrar do trabalho deles!

Falo por exemplo, da famosa prescrição "Varfine segundo INR"... Normalmente somos nós que os chamamos a atenção ao médico de banco para algum doente com esta indicação. Mas porquê nós? É obrigação DELES terem esse conhecimento... O médico assistente é que deveria passar isso ao colega de banco...

Deixem de os lembrar, se ninguém prescrever a dosagem simplesmente não administrem. E se vos chamarem a atenção para isso mais tarde, educamente recordem-lhes que é obrigação deles a prescrição e não a nossa a de lhes lembrarmos...

3) Façam mais o vosso trabalho!

Sejam mais zelosos nos vossos cuidados... O doente está com dor no peito, vou dar um Nitromint? Não, primeiro verifico se há algum protocolo escrito que me confere essa autonomia... Se não há, não dou... comunico ao médico.

Se este fizer uma prescrição oral, não administrem o medicamento e informem o médico disso... Apenas administram o que estiver escrito...

E se o médico não quiser saber? Bem, o doente irá continuar com dor e vocês continuam a actualizar o médico da sua situação... Lembrem-se de escrever tudo em notas, que constituirá prova, caso algo de grave suceda ao doente, de que não foi por negligência dos enfermeiros.

O mesmo caso os utentes descompensem durante a noite... Não hesitem em contactar os médicos quando o estado do utente se altere para pior... e insistir se preciso for! É o nosso dever, afinal...

4) Façam apenas! o vosso trabalho...

Há determinados actos da nossa parte que são voluntários e, nesse sentido, podemos prescindir de os realizar...

Por exemplo, armarmo-nos em técnicos de colheitas e de laboratório a altas horas da manhã... Em alguns serviços (Sta Marta por exemplo) os enfermeiros são pagos, e bem pagos, para participar em estudos de carácter ciêntifico. Quem não recebe nada, porque há-de dar algo?

Por outro lado, com todas as políticas algo opressivas por parte dos "de cima", em que cada vez nos tiram mais regalias sob a mote (legítimo aliás) de fazer cumprir a lei, começa a haver pouca vontade e disponibilidade para transportes de doentes e quem sabe que mais...

Também é cumprir a lei não trabalhar mais do que 12 horas... Assim, lembrem-se sempre que caso tenham de seguir turno por algum motivo (e não é preciso puxarem muito pela cabeça para se lembrarem de um), por exemplo noite, podem sempre ir embora às 4 da manhã, contactando para isso o chefe de equipa da urgência para que um dos enfermeiros da prevenção complete o seu turno...

Bem, e se vos chamarem a atenção para isso... a lei é a lei, certo? E o Sol nasce para todos. Ou será que é só para alguns?

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Talvez alguns chamem a estas medidas de boicote. Eu acho que estas são as medidas certas, o que existe agora é que está mal...

Depois há outro factor que entra em conta... A coragem para tentar a mudança e a inteligência de não o tentar sozinho... Porque apenas unidos podemos fazer as coisas mudar para melhor...

ps. - estou disponível para reunião informal de troca de impressões sobre este assunto

2 comentários:

Toy Marafado disse...

Pareces um líder sindicalista a falar......
Concordo contigo!!!!

zorlac disse...

Apesar de concordar ctg existe 1 ponto em que não concordo...deixar o doente sofrer as consequências de má prática médica!

Outro pequeno grande pormenor é a situação contratual de cada um...é muito bonito dizer que se faze e que todos juntos conseguimos...mas enquanto eu me encontrar sob um contrato individual a termo certo não me posso dar ao luxo destes "boicotes" pois no final do contrato só lhes estou a dar razão para não me renovarem contrato...por enquanto é muito complicado aderir a estes protestos dando o primeiro passo!
E todos sabemos como estou revoltado com estas políticas de gestão hospitalar...